Biombo Escuro

12º Olhar de Cinema

Quando eu me Encontrar

por Tiago Ribeiro

22/06/2023; Foto: Olhar de Cinema

Renascimento nas idas e vindas

Há um imenso frescor no novo trabalho das diretoras Amanda Pontes e Michelline Helena, o longa Quando eu me Encontrar, exibido na mostra Competitiva Brasileira do 12º Olhar de Cinema. Cineastas originárias do Ceará, as co-diretoras fazem um cinema com distintos traços regionalistas, focado no trabalho com atores, que evoca grandes temas dramatúrgicos como o conflito de gerações e o luto.

Nesse longa, lidamos com o mistério da partida de Dayane, que se foi deixando seu namorado, mãe e irmão como nada mais que algumas palavras escritas num bilhete. A falta que a personagem faz pros que ficaram paira sobre todo o filme, como uma nuvem carregada e melancólica.

A simplicidade da fotografia, que faz um trabalho belíssimo com uma iluminação sutil e bem construída, dá o tom da linguagem naturalista empregada em todas as frentes do longa. Esse olhar de simplicidade se estende para a musicalidade do filme, muito calcado em performances musicais e fascinado pela vida noturna cearense. Pontes e Helena conseguem construir uma mise-en-scène divertida ao filmar bares e performances musicais.

A incompreensão de todos diante da partida de Dayane orquestra todos os movimentos da dramaturgia naturalista empregada pelas diretoras, em um mundo em que nada parece mais difícil que compreender o outro. Inclusive os conflitos geracionais que definem a relação de Marluce com sua mãe, e que acabam definindo a sua relação com sua própria filha Mariana, a irmã mais nova de Dayane. Esta personagem, inclusive, vive seu próprio filme de amadurecimento dentro da ausência que perpassa Quando eu me Encontrar, procurando se conhecer em um mundo alienígena à sua realidade.

Quando eu me Encontrar é um filme que poderia facilmente ser sobre a jornada de Dayane, qualquer que ela fosse, mas que opta por explorar as implicações de sua ausência. Um filme melancólico, mais interessado no luto do que no renascimento, pois sabe que nele reside uma força maior de mudança. O filme de Amanda Pontes e Michelline Helena entra para um seleto grupo de dramas realistas, distintamente brasileiros e marcados pelas especificidades de sua região.