Biombo Escuro

ESTREIAS DA SEMANA

M3GAN

por Guilherme Salomão

19/01/2023; Foto: Divulgação

Os riscos da relação entre crianças e a alta tecnologia

Inteligências artificiais que se rebelam contra os seus progenitores e questionam a natureza de suas respectivas existências já foram objeto de provocação em grandes clássicos do Cinema. De Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982) a O Exterminador do Futuro (1984), esse é um tema que, com o passar do tempo e suas consequentes inovações tecnológicas, se faz cada vez mais atual no mundo contemporâneo.

Dito isso, em M3GAN, novo terror da produtora norte-americana Blumhouse, o assunto mais uma vez vem à tona. Entretanto, com uma roupagem mais intimista e pés no chão, onde as ficções científicas de mundo distópico e os ciborgues futuristas assassinos vem dar lugar a uma história de terror que se estabelece na indústria de brinquedos do nosso mundo “real” - sendo quase inevitável, dado esse escopo, também não traçar um paralelo entre o filme e O Brinquedo Assassino (1988), que apresentou para as audiências o icônico Chucky.

Roteirizado por Akela Cooper e James Wan (mente criativa por trás da franquia Invocação do Mal), que repetem a parceira de Maligno (2021), M3GAN conta a história de Cady (Violet McGraw), uma menina de nove anos que, após uma tragédia familiar, vai morar com sua tia, Gemma (Allison Williams), uma engenheira robótica brilhante que trabalha para uma grande empresa do ramo dos brinquedos. Ocupada demais com seu trabalho, Gemma (que é essa espécie de “Tony Stark dos brinquedos”), desenvolve M3GAN, uma boneca robótica movida a base de inteligência artificial e programada para ser uma companhia para Cady em todas as suas tarefas diárias.

M3GAN é, acima de tudo, um filme de comentário social incisivo, que descarta discursos complexos ou intelectualmente rigorosos e aposta na clareza de uma ideia que, dado o mundo tecnológico em que vivemos hoje, se torna cada vez mais comum - perigos no acesso precoce por parte das crianças a aparelhos eletrônicos (celulares, tablets e afins) e as novas tecnologias como um todo e como que tal tópico acaba por afetar negativamente a realidade social e o convívio familiar delas. À medida que Gemma relega a criação de sua sobrinha para sua mais nova invenção (o que ela também enxerga como um experimento, já que a companhia para qual ela trabalha logo assume o potencial comercial da boneca), estabelece-se não só um distanciamento da relação das duas como também uma dependência social e emocional crescente entre Cady e M3GAN, com a menina se tornando cada vez mais agressiva e instável emocionalmente.

Ademais, dirigido por Gerard Johnstone, que aposta em cenas de horror mais simples e “limpas”, M3GAN é um filme em que o terror em si não se manifesta como o maior dos destaques da narrativa ou o que mais sustenta a experiência do filme. Seguindo uma lógica mais clássica, esse item da história é apresentado de forma episódica, desenvolvendo o lado assassino de M3GAN até culminar em um clímax de conflito direto dos protagonistas com a boneca - que, ao final da projeção, já é o clássico caso da inteligência artificial independente que enxerga em seus criadores uma ameaça à sua existência.

Assim, se o terror do longa não será o grande cativador do espectador, será o desenvolvimento da boneca M3GAN propriamente dita (com movimentos feitos por Amie Donald e voz de Jenna Davis) e sua relação com Cady que o fará. Além do visual instigante e diferenciado, a criação de Gemma também exala carisma próprio em seu comportamento. Cínica e de modos robotizados, M3GAN consola Cady cantando hinos da música pop e até realiza dancinhas antes de cometer assassinatos. O que resulta em episódios infalíveis de divertir os espectadores, sobretudo na era onde redes sociais como o Tik Tok fazem cada vez mais sucesso.

Dessa forma, M3GAN pode até não ser uma obra de terror disruptiva para com o gênero. De todo modo, assim como grande parte das produções da Blumhouse, é um acerto por mais uma vez ter consciência em dosar numa medida agradável uma fórmula que combina terror, humor e comentários sociais relevantes para espectadores que buscam por um entretenimento, no mínimo, cativante.

Guilherme Salomão

Redator

Guilherme Salomão é Social Media, Produtor Audiovisual, Colunista e Criador de Conteúdo digital apaixonado por Cinema, Música e Cultura Pop. Administrador por formação, onde foi autor do TCC “O Poder da Marca no Cinema: O Caso Star Wars de George Lucas”, ele também estudou Produção Audiovisual na Academia Internacional de Cinema.