Biombo Escuro

24º FESTIVAL DO RIO

Close

por Guilherme Salomão

11/10/2022; Foto: Divulgação/Festival do Rio

As emoções juvenis em poesia intimista

A pré-adolescência e a adolescência costumam ser fases da vida marcadas por descobertas e pelas emoções à flor da pele. O amadurecimento, a perda da inocência, o fortalecimento de vínculos, o surgimento de novas amizades e o esfacelamento de outras são alguns dos elementos que, em uma grande parte dos casos, costumam marcar essa passagem da infância para a vida adulta, caracterizando aquele que pode ser considerado um dos períodos mais desafiantes do chamado ciclo da vida- o famoso “Coming of Age”.

Em Close, segundo longa-metragem do cineasta belga Lukas Dhont, há uma história muito sensível e tocante sobre esse assunto. Vencedor do Grand Prix do Festival de Cinema de Cannes de 2022, o filme conta a história da amizade entre Leo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav de Waele), dois amigos de treze anos de idade extremamente próximos. Após um desentendimento repentino, advindo de rótulos sociais e de natureza consideravelmente maliciosa de seus colegas de escola (que acreditam que a relação dos dois possa se tratar de um romance homoafetivo), eles começam a se afastar gradualmente um do outro, o que, mais tarde, acabará culminando em uma tragédia irreparável.

De início, Dhont enfatiza seus esforços criativos em estabelecer essa amizade próxima de Leo e Remy.Investindo em diálogos e situações rotineiras entre a dupla, o resultado é uma coleção de momentos intimistas, que estabelecem uma relação de parceria e proximidade fraterna entre os dois. Aqui, existe uma lógica na direção do realizador que remete de forma considerável a mise-en-scène dos longas mais recentes da cineasta francesa Celine Sciamma. Sobretudo a poesia das imagens e o calor humano das situações, envoltas por uma fotografia de cores quentes e alguns planos milimetricamente calculados, de Retrato de uma Jovem em Chamas (2019), e o minimalismo aconchegante e íntimo dos ambientes e ocasiões de Pequena Mamãe (2021) - Escolhas pertinentes, por sua vez, em representar essa proposta de relato sobre as emoções joviais características da idade.

Entretanto, a reviravolta do roteiro, assinado pelo próprio Lukas Dhont e por Angelo Tijssens (que repetem a parceria de Girl, longa anterior de Dhont, lançado em 2018), é o estopim para as mudanças de tom da história. A partir daqui o destino fatal e trágico de Remy faz com que o aconchego dê lugar à melancolia, à medida que o luto familiar, as discussões sobre a verdadeira natureza e felicidade do jovem enquanto em vida e, principalmente, os sentimentos de culpa de Leo por ter se afastado do amigo (ou o rejeitado, como o próprio personagem afirma em um momento chave da projeção) tomam conta de Close, com esse último sendo enfatizado por uma atuação encantadora por parte do jovem Eden Dambrine, de expressividade e olhar simultaneamente doce e tristonho.

Nesse contexto, é interessante notar como Dhont se demonstra um cineasta extremamente consciente sobre as escolhas criativas de sua obra. Dado que, no início, eram os tons quentes que embebem o seu filme visualmente, o diretor acerta em fazer com que a direção de fotografia, comandada por Frank van den Eeden, passe a ser cada vez mais de iluminação e tons frios em situações semelhantes às do princípio, tendo em vista a mudança de sentimentos que agora cercam os personagens e as situações que passam a ser decorridas.

De toda forma, quando Leo se vê em busca de coragem para se aproximar da mãe de Rémi e realizar um desabafo que sente necessário, são os temas de lidar com sentimentos e com o peso atribuído a certas atitudes que tomam conta do final comovente de Close. Se, em determinado momento da trama, de luto e culpa, a prática do hóquei proporciona um braço quebrado a Leo, no final, a remoção do gesso acaba representando sua cura e o sentimento de renovação e amadurecimento em lidar com emoções. No lugar da culpa, o perdão. Acompanhado, acima de tudo, da saudade, das lembranças e do legado de uma amizade que irá reverberar para sempre.



 



Guilherme Salomão

Redator

Guilherme Salomão é Social Media, Produtor Audiovisual, Colunista e Criador de Conteúdo digital apaixonado por Cinema, Música e Cultura Pop. Administrador por formação, onde foi autor do TCC “O Poder da Marca no Cinema: O Caso Star Wars de George Lucas”, ele também estudou Produção Audiovisual na Academia Internacional de Cinema.